Do sucesso nas telas para o fracasso nas páginas

10 abril 2011
 

Saiu a lista dos 20 livros de maior sucesso de todos os tempos. Vou citar alguns dos escolhidos: “Instinto Selvangem”, “O Franco Atirador”, “Alien: O Regresso”, entre outros.
Calma... calma... Antes que você tenha uma síncope ou comece a pensar que eu esteja ficando pirado, deixe-me esclarecer que tudo não passa de uma “brincadeirinha”. É claro que esses livros “ultra-desconhecidos” não estão incluídos em nenhuma lista dos mais vendidos e nunca estarão. Comecei o texto dessa forma para que vocês entendam a grande besteira de alguns escritores, produtores ou roteiristas que insistem em escrever um romance baseado num filme. De cada 10 exemplos, podem acreditar que nove foram um “tiro no pé”, enquanto apenas um se deu bem, ou mais ou menos bem, sei lá. E nestas raras exceções, posso citar três obras: “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “O Segredo do Abismo” e “Love Story – Uma História de Amor”. Quanto ao resto; simplesmente é resto.
O que dói em nós que apreciamos uma boa leitura é saber que mesmo cientes dessa estatística e sabendo que tais adaptações estão fadadas ao fracasso, infelizmente ainda continuam surgindo vários aventureiros insistindo nesta estupidez.
Escrever uma história é completamente diferente de noveliza-la. O escritor que honra a sua classe tem a difícil missão de elaborar um enredo que prenda o leitor como a teia de uma aranha, criar personagens interessantes para viver esse enredo, depois imaginar tramas e sub-tramas, e por aí afora. E essa tarefa não é para qualquer um. Costumo dizer que escrever romances é um dom, por isso, eu admiro muito esses escritores que no mundo da literatura podem ser considerados deuses, pois tem o poder de criar qualquer coisa que a sua imaginação permitir. Algo muito diferente do sujeito metido a escritor que decide novelizar um filme. Este pseudo escritor simplesmente vai “chupar” a história das telas  para as páginas de um livro. Ele não vai ser o criador, mas sim o copiador.
Agora me responda uma coisa. Você acha que os leitores inteligentes e que são capazes de transformar um livro em best-seller da noite para o dia, vão perder tempo “lendo um filme”? É claro que não.
Esta classe seleta de consumidores entende claramente a diferença entre transpor um livro para as telas e transpor um filme para as páginas. Adaptar uma obra literária para o cinema é um trabalho de titãs, ou você pensa que é moleza encaixar um país dentro de um estado? É dessa maneira, que muitas vezes, um roteirista se sente ao ter que adaptar a história de um livro para a telona. Ao escrever um livro, o escritor é livre como um pássaro, pois ele não trabalha com uma palavrinha chamada “tempo”; ao contrário, do roteirista que vai transferir a essência dessas páginas para o cinema. O responsável pela adaptação do roteiro vai ter que se virar para encaixar o livro inteiro em duas horas ou pouco mais de filme. E é geralmente, essa curiosidade em saber como irão ficar na tela os personagens de uma obra literária bem como as tramas  e sub-tramas das suas páginas, que faz tanto livro quanto filme se tornarem sucessos absolutos. Agora ao se adaptar um filme para as páginas, toda essa magia se perde no tempo, porque você já conhece a vida dos personagens, as tramas, enfim, o aspecto surpresa se evapora. O leitor, simplesmente está vendo nas páginas do “falso livro” o que já viu na tela.
Apesar de tudo isso, ainda existem escritores e roteiristas teimosos que insistem em fazer essas adaptações ridículas a troco de alguns caça níqueis sem se preocupar se o livro vai vender ou não.
Mas como em tudo há exceções, no contexto dos filmes que viram livros não é diferente, pois também  há essas exceções. Raras mais existem. E como já disse no início desse texto, os livros “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “O Segredo do Abismo” e “Love Story – Uma História de Amor” se encaixam perfeitamente nessas exceções.
No caso de “O Segredo do Abismo”, romance escrito por Orson Scott Card e baseado no roteiro de James Cameron, tudo leva a crer que o sucesso da obra se deve ao fato do famoso diretor e roteirista de Hollywood não ter ficado satisfeito com o filme que fez, por isso, o próprio Cameron teria procurado Orson para  completar alguma coisa que ele não conseguiu explicar no filme. Um complemento que viria na forma de novelização.
“2001 – Uma Odisséia no Espaço”, o livro de Arthur C. Clarke foi escrito paralelamente a produção do filme. Explicando melhor: ambos foram produzidos juntos, tanto é que Clarke e o diretor da produção cinematográfica Stanley Kubrick trabalharam em parceria, tanto no roteiro do filme como no livro. Alguns críticos acreditam que o sucesso do livro se deve ao fato do mesmo não ter sido lançado depois do filme, mas simultaneamente com a produção cinematográfica. 
Quanto a “Love Story – Uma História de Amor”, o sucesso do livro não tem nenhuma explicação e continua uma verdadeira incógnita. Erich Seagal escreveu o roteiro do filme que também acabou se transformando num romance campeão de vendas nos anos 70. 
Confiram agora alguns dos livros do gênero que não tiveram a mesma sorte de “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “O Segredo do Abismo” e “Love Story”, se tornando verdadeiros fiascos de público e crítica:
01 – Pearl Harbor
O livro foi lançado com o objetivo de aproveitar o sucesso do filme nos cinemas. Randall Wallace que foi convidado pelo produtor Jerry Bruckheimer para escrever o roteiro do filme, aproveitou a onda para fazer uma novelização do seu próprio roteiro. A expectativa era de que tanto filme quanto livro “arrebatassem” quarteirões. O filme, mesmo sendo malhado pela crítica especializada, ainda conseguiu fazer um sucesso relativo nas telonas; quanto ao livro... bem, melhor ficar quieto.
02 – O Franco Atirador


O que sei sobre o assunto é que o livro é baseado no filme de Robert de Niro e dirigido pelo Michael Cimino. Lançado em 1978 nos cinemas, “O Franco Atirador” conta as seqüelas psicológicas que a guerra do Vietnã causou em três jovens e inseparáveis amigos. Um drama primoroso e emocionante que conquistou cinco prêmios Oscar (melhor filme, diretor, ator coadjuvante, som e edição). Quanto ao livro não me perguntem nada, pois não sei... Me transformei num verdadeiro rato de internet, fuçando aqui, ali e acolá pra ver se descobria alguma coisa sobre um sujeito chamado E.M. Corder que se aventurou em fazer a novelização do roteiro escrito pelo próprio Cimino, mas garimpei o mínimo do mínimo. O que consegui descobrir é que o livro, provavelmente, foi baseado no filme. Agora pergunto. Se o livro tivesse vendido horrores tornando o escritor consagrado, com certeza teríamos muito mais subsídios na rede mundial de computadores.
03 – Rei Arthur

Vocês se lembram daquele filme de 2004 com o Clive Owen no papel de Arthur? O filme se chama “Rei Arthur” e nele, Guinevere é uma princesa nada convencional, pois sai ajudando Arthur na matança usando arco e flecha. O livro do desconhecido Frank Thompson é inspirado no roteiro para cinema de David Franzoni. Alguém se lembra desse livro na época de seu lançamento, em 2008? E agora, recentemente? Preciso dizer mais alguma coisa?

04 – Instinto Selvagem

Se o filme não foi lá essas coisas, aliás as línguas mais ferinas dizem que a única coisa que se salvou foi cruzada de pernas da Sharon Stone, imagine então o livro que foi baseado no filme. Literalmente foi uma pedrada na cabeça dos leitores que tiveram a infelicidade de comprar a obra pensando que seria melhor do que o filme. O romance de Richard Osborne é uma cópia fiel do roteiro de Joe Eszterhas. Não muda absolutamente nada. Tive o desprazer de ler o livro e a minha impressão foi a de que estava assistindo o filme através das páginas, sem nenhuma mudança.Terminei a leitura porque sou teimoso.
05 – Alien: O Regresso
Olha, melhor não escrever nada sobre esse livro de A.C. Crispin e Kathleen O’Malley. O silêncio, com certeza,  explicará tudo. Aconselho aos mais curiosos que optem por assistir o filme meia boca de 1997 com a grande Sigourney Weaver como a tenente Ellen Ripley que volta a combater aquele monstro gosmento e que já não assusta ninguém.
06 – A Garota da Capa Vermelha
Outro livro lançado para faturar em cima do filme. Basta afirmar que a obra literaria de Sara Blakley-Cartwright e David Leslie Johnson não tem final, obrigando assim, o leitor a assistir o filme para entender a parte final do livro. Que engôdo!!
                                            
Quanto aos livros: “Uma Manhã Gloriosa”, “Garota Infernal” e o brasileiro “Desenrola” me abstenho de comentar, pois ainda não os li e tampouco assisti ao respectivos filmes. Por isso fica a expectativa se essas obras seguirão o raro caminho de “2001 – Uma Odisséia no espaço”, “O Segredo do Abismo” e “Love Story” ou se engrossarão a lista das malfadadas obras copiadas do cinema e que se tornaram grandes fracassos.  

2 comentários

  1. Como não sou uma grande consumidora de filmes, difilmente me sentiria atraída por livros derivados das telas, mas acho que o problema não é a história que serve de inspiração, pois...as histórias em si já foram todas contadas, o número de enredos possíveis é limitado, o que conta mesmo é o jeito de contar... e aí sim pode-se encontrar a diferença entre um escritor de fato e ... os outros. grande abraço!

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  2. Antes de tudo, eu preciso dizer, seu blog é ótimo. Seus textos são incríveis.
    No entanto, eu discordo em muitos aspectos desse seu post. Primeiro, as novelizações/adaptações de filmes geralmente são derivadas das editoras que detém os direitos da empresa do filme. A adaptação surge pelos responsáveis de marketing e são direcionadas para um público-alvo - aquele que aproveita os filmes tanto quanto os livros que são derivados dos roteiros. Nenhum escritor ''decide'' que vai ''novelizar'' algo, eles são contratados para isso. As novelizações surgiram há decadas atrás, já que era praticamente impossível ter o filme em casa, elas eram feitas para os fãs que gostavam de reviver o filme sem precisar vê-lo.
    Segundo, num filme temos os acontecimentos em uma/duas horas. As adaptações de roteiros chegam a ter 400 páginas. Elas expandem o background dos personagens, introduzem cenas deletadas/cenas não aproveitadas do roteiro/cenas criadas pelos próprios autores e etc. Isso é uma ótima maneira de habituar jovens - que assistem filmes - com a leitura de um filme que curtiu. E a partir daí, procurar ainda mais livros - que não são adaptados de roteiros, como foi o meu caso.
    Terceiro: Eu conheço autores que começaram ''adaptando'' roteiros e hojes são ótimos nos ''originais''. A novelização não é um modo de copiar, eles estão sendo contratados e são capazes de desenvolver ainda mais seu próprio repertório.

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