Tubarão

22 maio 2011
Passei alguns dias complicados por problemas de doença em família. O meu velho querido está um pouco “baqueado”. Por isso tive de abandonar o blog por alguns dias e talvez tenha de abandoná-lo por outros mais, pelo menos até esta fase passar e se Deus quiser ela irá embora. Mas apesar disso, não deixarei de postar; é claro que menos, mas com toda certeza, continuarei dividindo minhas leituras com vocês.
E nesta fase em que estou fazendo uma partilha do meu tempo com o trabalho – que é muito! – e também com a saúde do velho amado, aproveitei para fazer a releitura de alguns livros que marcaram a minha adolescência. A leitura acontece sempre pelas madrugadas afora e em uma delas me deparei com um bicho que me assustou muito há décadas atrás: o velho tubarão branco de Peter Benchley.
Se você que acompanha esse blog ainda está em dúvida se lê ou não esta obra; leia, mas leia sem receio. Não dê ouvidos para aqueles que dizem que o livro é ultrapassado, que o tubarão já não assusta mais ninguém e que os personagens são simplórios. Quem disse ou escreve essas “autênticas besteiras” ou sandices com certeza não entendeu absolutamente nada da obra. O tubarão assusta, sim e os personagens são muito profundos. Ah! Já ia me esquecendo, as páginas de Benchley nunca ficarão ultrapassadas. Caso contrário, não encontraríamos tantas resenhas opinativas do livro na internet, todas elas atualizadas. Sinal de que a geração atual continua lendo a história do velho tubarão branco que um dia levou pânico para um pequeno resort costeiro em Long Island.
Quando de seu lançamento, em 1974, o livro “Tubarão” se tornou um verdadeiro Best seller ficando no primeiro lugar das listas dos mais lidos em todo o mundo. A obra transformou Benchley em multimilionário da noite para o dia. Fez tanto sucesso que o seu autor foi convidado para adaptar as páginas de sua obra para o cinema. E mais! Num filme que seria dirigido pelo gênio Steven Spielberg, que naquela época já era considerado um “menino-prodígio” da indústria cinematográfica de Hollywood.
O roteiro adaptado para as telas por Benchley repetiu o sucesso do livro e se transformou num verdadeiro “arrassa-quarteirões”, com milhares de pessoas correndo aos cinemas para ver o duelo de vida ou morte entre o “assassino branco dos mares” e os três homens que – apesar de suas diferenças – decidiram se unir para matar o bicho.
O livro, ao contrário do filme, explora ao máximo essa relação conflituosa entre os personagens, principalmente entre o oceanógrafo Hooper e o veterano pescador Quint. Já o xerife Martin Broody funciona como o ponto de equilíbrio entre os dois, sempre tentando encontrar meios de apaziguar os confrontos e divergências, as vezes, ferozes entre a dupla de colegas. Já no filme, essa relação conturbada não é explorada em detalhes, com o diretor Spielberg e o roteirista Benchley optando por dar um espaço maior para o suspense e a ação envolvendo a caça ao “monstro dos mares”.
Outro acontecimento importante que o livro explora à exaustão e nem se quer é insinuado no filme é a traição da mulher do xerife Martin Broody que resolve “pular a cerca” com o oceanógrafo Hooper. No livro, a obcecação do xerife em matar o tubarão assassino que vem espalhando o terror na cidade costeira pela qual é responsável, acaba afastando-o de sua mulher e dos filhos. Com isso, Ellen – a esposa do xerife – não é forte o suficiente para suportar a solidão e acaba cedendo as investidas sedutoras de Hooper, que se mostra um mau caráter, não pensando em seu amigo Broody e nem nos filhos do casal. Para ele, o que vale é conseguir levar a mulher do xerife para a cama.
O final do livro também é totalmente divergente do filme. Benchley alterou drasticamente o seu roteiro no que se refere as cenas finais, mudando o destino de um dos personagens. Enquanto no filme, apenas um dos três caçadores de tubarão morre, no livro, dois personagens dão adeus à vida, sendo que apenas um consegue escapar, e... com muito esforço.
Quanto ao livro em si, sem dúvida alguma, é muito mais sedutor do que o filme. A personalidade dos personagens é explorada em detalhes, fazendo com que o leitor passe a se identificar com as suas qualidades e defeitos.
O clima de tensão quando Hooper, Broody e Quint saem à caça do grande tubarão branco é muito mais angustiante do que no filme. O leitor nunca sabe quando o “bicho” vai atacar a precária embarcação que os três ocupam.
O embate entre Hooper com o seu conhecimento high tech e Quint com a sua experiência prática em tubarões, sem nunca ter lido nada à respeito, é outro trunfo à favor do livro. A discussão entre os dois, às vezes chega a ser engraçada e em outras vezes exacerbada.
Enfim, um livro que vale a pena ser lido e relido, mesmo que você já tenha assistido o filme “N” vezes.

Postar um comentário

Instagram